terça-feira, 26 de outubro de 2010

Veio a Maria Clementina



Como se colhe uma mulher?
Nem sempre é touro p’ra colher
E o matador que há em mim
Não bandarilha num jardim.
Ser pegador tão floreado

Não faz que eu seja bom forcado.
Se da plateia vêm flores
A cada "Olé" eu sinto dores.
Foi-se esta veia assassina

Veio a Maria Clementina.
Como se apanha um coração
Sem dar o nosso por caução?

O caçador que há em mim
Não se deixa abater assim
Mas p’lo disparo sem certeza

Ricocheteia a Natureza.
Se da culatra vêm flores
Eu digo ais mas não de dores.
Um tiro errado não se ensina;

Veio a Maria Clementina.
Como se cala uma cantiga
Sem trautear quanto isso obriga?

O surdo-mudo que há em mim
Já ouve o anunciado fim.
De tão cinzenta previsão

Alaranjou-se-me a intenção
Se te amordaço e dás-me flores
Que me castiguem justas dores.

Foi-se esta predatória sina;
Veio a Maria Clementina.

Projecto Maria Clementina

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