sexta-feira, 27 de março de 2009

O "Calhau" Filosofal....



Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,que fossa através de tudo num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel,base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,rosa-dos-ventos, Infante,caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,bastidor, passo de dança,Colombina e Arlequim,
passarola voadora, pára-raios, locomotiva,barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,cisão do átomo, radar,ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão

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